sexta-feira, 22 de abril de 2016

"Retrato"- Cecília Meireles

"Eu não tinha este rosto de hoje, 
assim calmo, assim triste, assim magro, 
nem estes olhos tão vazios, 
nem o lábio amargo.

Eu não tinha estas mãos sem força, 
tão paradas e frias e mortas; 
eu não tinha este coração 
que nem se mostra. 

Eu não dei por esta mudança, 
tão simples, tão certa, tão fácil: 
- Em que espelho ficou perdida 
a minha face?"






SOBRE A POETISA

Cecília Meireles nasceu no Rio de Janeiro em 7 de novembro de 1901. Foi poetisa, professora, jornalista e pintora brasileira. Foi a primeira voz feminina de grande expressão na literatura brasileira, com mais de 50 obras publicadas. Com 18 anos estreia na literatura com o livro "Espectros". Em 1939 publicou "Viagem" livro que lhe deu o prêmio de poesia da Academia Brasileira de Letras. Em 1922 casa-se com o artista plástico português Fernando Correia Dias, com quem teve três filhas. Viúva, casa-se pela segunda vez com o engenheiro Heitor Vinícius da Silva Grilo, falecido em 1972. Cecília Meireles falece em 9 de novembro de 1964.

ANÁLISE

No poema, o eu lírico, faz uma reflexão ao olhar aos seus retratos. Percebe que sua face na fotografia não é a mesma face quando se olha no espelho. Nada é igual. Nem mesmo seu coração ou mentalidade. Todos sabemos disso. Mudamos ao decorrer do tempo. Todos evoluem. A poetisa se questiona sobre o porquê. Não percebe a ocorrência desta mudança. Quando começou a deixar de ser uma pessoa e passou a ser outra? O tempo, como dizem, voa, e na maioria das vezes, não percebemos o quanto. Ao olhar em seus retratos percebe o quanto está diferente, e se questiona em qual espelho sua face havia sido perdida. Este último verso do poema, nos faz refletir, não menos do que o resto dele, mas faz. Ao perceber o quanto mudou em seus retratos, se questiona deste modo ao final do poema, tentando se recordar quando toda essa mudança, havia ocorrido. 

POR QUE DEVERIAM LER?

Quando nos olhamos em fotos antigas, quando bebês ou crianças, achamos aquilo natural, pois temos a consciência de que já fomos menores, e nos desenvolvemos com o tempo. Nossa mentalidade e físico evoluíram e não somos mais daquele tamanho. Mas nunca pensamos como isso ocorreu, e principalmente, quando. Quando começamos a enxergar uma nova pessoa através do espelho? Quando passamos a crescer e evoluir? Quando começamos a pensar diferente do que pensávamos? A poetisa, em "Retrato", questiona tudo isso em apenas três estrofes, deixando uma questão a ser pensada pelo leitor. Recomendo, pois chamou-me a atenção no instante que o vi, e tenho certeza que a interpretação do poema, lhe interessará, assim como muitos outros desenvolvidos pela brilhante poetisa.

quarta-feira, 13 de abril de 2016

"Se eu morresse amanhã"- Álvares de Azevedo

"Se eu morresse amanhã, viria ao menos
Fechar meus olhos minha triste irmã;
Minha mãe de saudades morreria
Se eu morresse amanhã!

Quanta glória pressinto em meu futuro!
Que aurora de porvir e que amanhã!
Eu perdera chorando essas coroas
Se eu morresse amanhã!

Que sol! que céu azul! que doce n'alva 
Acorda a natureza mais louçã!
Não me batera tanto amor no peito
Se eu morresse amanhã!

Mas essa dor da vida que devora
A ânsia de glória, o doloroso afã...
A dor no peito emudecera ao menos
Se eu morresse amanhã!"



SOBRE O POETA

Manuel Antônio Álvares de Azevedo, nasceu dia 12 de setembro de 1831, em São Paulo, capital. Foi um romancista, dramaturgo e poeta brasileiro. Filho do Doutor Inácio Manuel Alvares de Azevedo e Dona Luísa Azevedo, foi um filho dedicado a sua mãe e a sua irmã. Aos dois anos de idade, junto com sua família, muda-se para o Rio de Janeiro. Foi aluno brilhante, estudou no colégio do professor Stoll, onde era constantemente elogiado. Em 1945 ingressou no Colégio Pedro II. Cursou faculdade de direito. Suas poesias retratam o seu mundo interior. É conhecido como "o poeta da dúvida". Seus poemas falam constantemente do tédio da vida, das frustrações amorosas e do sentimento de morte. A figura da mulher aparece em seus versos, ora como um anjo, ora como um ser fatal, mas sempre inacessível. Falece dia 25 de abril de 1852, no Rio de Janeiro, capital.

ÁNALISE

No poema, o eu lírico fala sobre a possibilidade de sua morte acontecer. Cita os pontos ruins, e bons desta ideia. Sentiria, claramente, falta de sua sua mãe, mas também ficaria longe de coisas desagradáveis, na visão do poeta. As dores que sofreria na Terra, não sofreria mais, se sua morte chegasse. Comenta vários pontos positivos e negativos desta ideia, dando a entender, que não teria medo de sua morte acontecer, mas também não estaria completamente satisfeito. Se morresse amanhã, em sua visão, teria mais pontos positivos do que negativos. Ficaria longe desta dor da vida, veria a mais bela natureza. No entanto, como ele saberia de tudo isso? Dizem que as pessoas descansam em paz, e no poema, é essa a ideia transmitida, se ele morresse amanhã...

POR QUE DEVERIAM LER?

Recomendo o poema a todos para refletirmos sobre o medo de tantas pessoas: a morte. O poeta fala sobre o assunto de uma maneira natural. Até mesmo positiva. Na maior parte do poema fala sobre a morte de uma maneira normal, que ela é. Todos sabemos que como dizem "a única certeza que temos na vida, é a morte", então não deveríamos já esperar que ela aconteça? Obviamente não é boa a sensação de pensar que nunca mais veremos uma pessoa, levada pela morte, mas já que ela sempre existiu, já deveríamos estar acostumados com ela. Outro ponto que o poeta cita, é a visão da sociedade de que tudo após a morte seria a paz. Mas como vamos saber? Como saberemos se não existe vida após a morte? Cada indivíduo, acredita em uma "crença", mas o poeta deixa bem clara o sentimento de tranquilidade em relação a morte, no poema "Se eu morresse amanhã".

domingo, 10 de abril de 2016

"Razão de ser"- Paulo Leminski

"Escrevo. E pronto.
Escrevo porque preciso

preciso porque estou tonto.
Ninguém tem nada com isso.
Escrevo porque amanhece.
E as estrelas lá no céu
Lembram letras no papel,
Quando o poema me anoitece.
A aranha tece teias.
O peixe beija e morde o que vê.
Eu escrevo apenas.
Tem que ter por quê?"









SOBRE O POETA

Paulo Leminski nasceu em Curitiba, Paraná, no dia 24 de agosto de 1944. Entre seus livros de poesias, todos editados nos anos 80, destacam-se: Capricho e Relaxos, La Vie en Close, Não Fosse Isso e Era Menos / Não Fosse Tanto e Era Quase. Paulo Leminski foi também professor de História e de Redação em cursos pré-vestibulares, diretor de criação e redator de publicidade. Escreveu letras de músicas com uma grande influência de MPB chegando a fazer pareceria com Caetano Veloso. Faleceu no dia 7 de junho de 1989, em Curitiba, Paraná. 


ANÁLISE

Ao meu olhar, o eu lírico estava tentando transmitir a ideia de que não é necessário haver uma razão para fazer aquilo que queremos fazer. No poema falou sobre a profissão de escritor, dizendo que todos lhe perguntam o por quê faz isso. Muitas pessoas buscam, sempre, algum motivo, mas às vezes, não há nenhum. Não há motivo para gostarmos do que gostamos, para assistirmos o que assistimos, para estudarmos o que estudamos ou para vivermos como vivemos. O eu lírico cita, também, que "ninguém tem nada com isso", expressando um assunto muito falado em nossa sociedade. Se você quer fazer isso, simplesmente faça, e se alguém lhe perguntar o porquê, nem sempre temos a resposta de tudo. E no final do poema, deixa uma pergunta aos seus leitores: "Tem que ter por quê?", deixando ainda mais clara, a ideia que tentou transmitir durante todo o poema.


POR QUE DEVERIAM LER?

Recomendo a todos, para refletirmos várias ideias citadas no poema. Nem sempre temos que achar uma razão para tudo que fazemos, ou que vemos outras pessoas fazerem. Assim é simplesmente a vida. Não conseguimos achar uma razão para tudo, mas também, não devemos tentar achar uma razão para os atos de outras pessoas, pois, às vezes, não conseguiremos uma resposta. Este não é um poema de amor, como geralmente analiso neste blog, é um poema de reflexão, por isso, devemos tirar um curto período de nossas vidas para refletirmos sobre todas as ideias do poema, brilhantemente desenvolvido, por Paulo Leminski.

domingo, 3 de abril de 2016

Fotografias poéticas- Exposição Gênisis (Sebastião Salgado)

Falarei aqui, hoje, sobre a exposição "Gênesis" do famoso fotógrafo, Sebastião Salgado. Como, neste blog, falo sobre poesias e poetas, mostrarei e discutirei sobre o por quê das fotografias de Salgado serem poéticas, e não servir para relatar uma notícia. 
A exposição é dividida em 5 regiões do planeta (Terras do Norte, Terras do Sul, Amazônia e Pantanal, Santuários e África) e as fotos, são em efeito preto e branco.

Todas as suas fotografias tem um significado, uma história. O fotógrafo só expõe o que ele quer que seja mostrado. A perspectiva poética ou artística das fotografias de Salgado, é mostrar ao admirador uma coisa que ele quer que seja vista e percebida por todos. Por exemplo, a perspectiva poética desta foto, fazendo com que ela não seja feita para noticiar algum fato, é a harmonia entre as 4 espécies aí apresentadas (focas, pinguins, albatrozes e o ser humano). Provavelmente, a expectativa de Sebastião Salgado ao fotografar esta foto, foi que as pessoas percebessem que pode existir a harmonia entre seres de diferentes espécies. Essa é a unica fotografia deste projeto que Salgado apareceu, no olhar da foca.

As fotos de Salgado não foram feitas para retratar uma notícia, pois elas, apesar de mostrarem coisas que acontecem no dia a dia, não têm essa intenção. Estas fotos têm uma intenção poética, ou seja, retratarem uma situação e fazerem com que as pessoas pensem e reflitam sobre isso, para tentar imaginar o que acontece nesta fotografia. Como já havia dito anteriormente, todas as suas fotos tem um significado, e é uma missão do admirador, refletir sobre eles.




Outro exemplo, seria nesta fotografia. A história por trás disso seria dos nômades, pessoas que se adaptam ao ambiente, se deslocando de um lugar ao outro, não o modificam ao seu favor. Isso seria um exemplo para várias pessoas. Os nômades só levam consigo o que precisam para sobreviver, sem degradar a natureza.




Sebastião Salgado, durante sua viagem para desenvolver o projeto "Gênesis", viajou para diversos lugares, conheceu diversas culturas e presenciou diversos momentos. Uma das maiores provas de que o fotógrafo Sebastião Salgado não teve a intenção de tirar suas fotos para noticiar algum fato, é que ele só tirou fotos de momentos que ele realmente achou que significava algo e só expôs fotografias que ele achou que o ser humano conseguiria tirar algo proveitoso daquilo.

Recomendo a exposição para todas as idades, pois, de crianças até idosos, todos podem tirar algo proveitoso desta experiencia e refletir sobre a natureza e os seres humanos em geral. Devemos observar algumas das fotos de Sebastião Salgado, pois, elas podem mudar seu olhar sobre o mundo, pelo menos, mudou o meu, e por isso, indico a todos.