assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração
que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
- Em que espelho ficou perdida
a minha face?"
SOBRE A POETISA
Cecília Meireles nasceu no Rio de Janeiro em 7 de novembro de 1901. Foi poetisa, professora, jornalista e pintora brasileira. Foi a primeira voz feminina de grande expressão na literatura brasileira, com mais de 50 obras publicadas. Com 18 anos estreia na literatura com o livro "Espectros". Em 1939 publicou "Viagem" livro que lhe deu o prêmio de poesia da Academia Brasileira de Letras. Em 1922 casa-se com o artista plástico português Fernando Correia Dias, com quem teve três filhas. Viúva, casa-se pela segunda vez com o engenheiro Heitor Vinícius da Silva Grilo, falecido em 1972. Cecília Meireles falece em 9 de novembro de 1964.
ANÁLISE
No poema, o eu lírico, faz uma reflexão ao olhar aos seus retratos. Percebe que sua face na fotografia não é a mesma face quando se olha no espelho. Nada é igual. Nem mesmo seu coração ou mentalidade. Todos sabemos disso. Mudamos ao decorrer do tempo. Todos evoluem. A poetisa se questiona sobre o porquê. Não percebe a ocorrência desta mudança. Quando começou a deixar de ser uma pessoa e passou a ser outra? O tempo, como dizem, voa, e na maioria das vezes, não percebemos o quanto. Ao olhar em seus retratos percebe o quanto está diferente, e se questiona em qual espelho sua face havia sido perdida. Este último verso do poema, nos faz refletir, não menos do que o resto dele, mas faz. Ao perceber o quanto mudou em seus retratos, se questiona deste modo ao final do poema, tentando se recordar quando toda essa mudança, havia ocorrido.
POR QUE DEVERIAM LER?
Quando nos olhamos em fotos antigas, quando bebês ou crianças, achamos aquilo natural, pois temos a consciência de que já fomos menores, e nos desenvolvemos com o tempo. Nossa mentalidade e físico evoluíram e não somos mais daquele tamanho. Mas nunca pensamos como isso ocorreu, e principalmente, quando. Quando começamos a enxergar uma nova pessoa através do espelho? Quando passamos a crescer e evoluir? Quando começamos a pensar diferente do que pensávamos? A poetisa, em "Retrato", questiona tudo isso em apenas três estrofes, deixando uma questão a ser pensada pelo leitor. Recomendo, pois chamou-me a atenção no instante que o vi, e tenho certeza que a interpretação do poema, lhe interessará, assim como muitos outros desenvolvidos pela brilhante poetisa.