domingo, 27 de março de 2016

"Meu Destino"- Cora Coralina

"Nas palmas de tuas mãos
leio as linhas da minha vida.
Linhas cruzadas, sinuosas,
interferindo no teu destino.
Não te procurei, não me procurastes –
íamos sozinhos por estradas diferentes.
Indiferentes, cruzamos
Passavas com o fardo da vida…
Corri ao teu encontro.
Sorri. Falamos.
Esse dia foi marcado
com a pedra branca
da cabeça de um peixe.
E, desde então, caminhamos
juntos pela vida…"



SOBRE A POETISA

Cora Coralina nasceu na cidade de Goiânia, no dia 20 de agosto de 1889. Seu nome de batismo era Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas. Tornou-se doceira, ofício que exerceu até os últimos dias de sua vida. Famosos eram os seus doces de abóbora e figo. Cora Coralina já escrevia poemas desde 1903, publicando vários deles com o pseudônimo de "Cora Coralina". Em 1965, quando tinha 76 anos, lançou seu primeiro livro "O Poema dos Becos de Goiás e Estórias Mais".  Em 1976, é lançado o seu segundo livro "Meu Livro de Cordel" pela editora Goiana. Mas o interesse do grande público é despertado graças aos elogios do poeta Carlos Drummond de Andrade, em 1980. Cora Coralina faleceu em Goiânia, no dia 10 de abril de 1985.

ANÁLISE

Nesse poema, o eu lírico fala sobre o destino como diz o próprio título. "Descreve"
 seu trajeto que chama de destino, até encontrar seu amado. Diz que nenhum deles procuraram um ao outro, simplesmente se acharam e consequentemente, acharam o amor, e esse dia, ficou marcado na vida de ambos. O poema tem uma mensagem muito linda e significante. Você não pode forçar o destino. O que tiver que acontecer acontecerá. O eu lírico prova essa ideia no poema. O poema como um todo fala sobre uma história de amor resumida, que, felizmente, acabou muito bem. Isso não é aplicado somente em histórias de amor. Tudo acontece por um motivo e a história traçada até esse motivo, é o destino.

POR QUE DEVERIAM LER?

Recomendo a leitura do poema para a compreensão da palavra que usamos tanto: "destino". O destino, como costumam dizer, pode não estar escrito, mas com toda certeza, tudo acontece por algum motivo. O destino é algo real, algo existente, e essa ideia é provada na história citada no poema. Uma história de amor, com um final feliz. Como já foi analisado, esse poema conta a história do eu lírico com seu amado. Deveriam ler pois é mais um poema com uma história de amor, como tantos analisados neste blog, com apenas uma diferença, esse é o primeiro poema analisado neste blog, criado por uma poetisa tão conhecida em nosso país, Cora Coralina.

sexta-feira, 18 de março de 2016

"Quero"- Carlos Drummond de Andrade

"Quero que todos os dias do ano
todos os dias da vida
de meia em meia hora
de 5 em 5 minutos
me digas: Eu te amo.

Ouvindo-te dizer: Eu te amo,
creio, no momento, que sou amado.
No momento anterior
e no seguinte,
como sabê-lo?

Quero que me repitas até a exaustão
que me amas que me amas que me amas.
Do contrário evapora-se a amação
pois ao não dizer: Eu te amo,
desmentes
apagas
teu amor por mim.

Exijo de ti o perene comunicado.
Não exijo senão isto,
isto sempre, isto cada vez mais.
Quero ser amado por e em tua palavra
nem sei de outra maneira a não ser esta
de reconhecer o dom amoroso,
a perfeita maneira de saber-se amado:
amor na raiz da palavra
e na sua emissão,
amor
saltando da língua nacional,
amor
feito som
vibração espacial.
No momento em que não me dizes:
Eu te amo,
inexoravelmente sei
que deixaste de amar-me,
que nunca me amastes antes.

Se não me disseres urgente repetido
Eu te amoamoamoamoamo,
verdade fulminante que acabas de desentranhar,
eu me precipito no caos,
essa coleção de objetos de não-amor."


SOBRE O AUTOR


Carlos Drummond de Andrade nasceu em Itabira do Mato Dentro - MG, em 31 de outubro de 1902. De uma família de fazendeiros em decadência, estudou na cidade de Belo Horizonte e com os jesuítas no Colégio Anchieta de Nova Friburgo RJ, de onde foi expulso por "insubordinação mental". De novo em Belo Horizonte, começou a carreira de escritor como colaborador do Diário de Minas, que aglutinava os adeptos locais do incipiente movimento modernista mineiro.


ANÁLISE



No poema eu lírico destaca a importância das três palavras mais simples e ao mesmo tempo mais significantes da língua portuguesa: "EU TE AMO". O poema inteiro fala basicamente sobre esse assunto. O eu lírico diz que sem o uso dessa expressão, o amor não é real. Sem a pessoa amada, fica-se sem rumo e a não ser que ela diga repetidamente que o ama, ele não se sente amado. Diz que o amor está na expressão "EU TE AMO" e que no momento em que a pessoa deixa de dizê-la, é porque parou de te amar, ou nunca te amou antes. O eu lírico se desespera pelo uso da expressão por parte de sua amada, ou se não, não seria completo, dando a entender, que até não sobreviveria. 


POR QUE DEVERIAM LER?


Esse é um poema bem interessante que trata de um assunto bem comum em nossa sociedade (o amor). No poema o eu lírico retrata a importância da demonstração do amor através da expressão comum: "EU TE AMO". Recomendo a leitura do poema para a compreensão dessas três palavras tão comuns para que muitos, não significam absolutamente nada, ou acham que são somente letras. Nesse poema, o leitor percebe que é mais do que isso. Percebe que para muitos essas palavras significam algo. Talvez após ler esse poema, o uso das palavras "EU TE AMO" por parte do leitor, serão usadas da melhor maneira possível, e com maior frequência. 

domingo, 13 de março de 2016

"Quando ela fala"- Machado de Assis

Quando ela fala, parece 
Que a voz da brisa se cala; 
Talvez um anjo emudece 
Quando ela fala. 

Meu coração dolorido 

As suas mágoas exala, 
E volta ao gozo perdido 
Quando ela fala. 

Pudesse eu eternamente, 
Ao lado dela, escutá-la, 
Ouvir sua alma inocente 
Quando ela fala. 

Minha alma, já semimorta, 
Conseguira ao céu alçá-la 
Porque o céu abre uma porta 
Quando ela fala.




SOBRE O POETA

Joaquim Maria Machado de Assis, nasceu na cidade do Rio de Janeiro em 21 de junho de 1839. Filho de um operário mestiço de negro e português, Francisco José de Assis, e de D. Maria Leopoldina. Machado de Assis, aquele que viria a tornar-se o maior escritor do país e um mestre da língua, perde a mãe muito cedo e é criado pela madrasta, Maria Inês, também mulata, que se dedica ao menino e o matricula na escola pública, única que freqüentará o autodidata Machado de Assis. Faleceu em 29 de setembro de 1908.



ANÁLISE

O poema cita que com a fala de sua pessoa amada, tudo é perfeito. Tudo se conserta. Tudo se encaixa. Descreve o quanto sua fala é inspiradora para ele. Sem ela, não é capaz de nada. O mundo para, quando ela fala. O eu lírico é curado, quando ela fala. Quando ela fala, poderia eternamente escutá-la, o eu lírico. Resumidamente, o poema cita que sem a voz da pessoa amada, não poderia nada. Demonstra o amor. A paixão. Demonstra o quanto a pessoa amada é importante para ele.


POR QUE DEVERIAM LER?

O poema demonstra amor. Demonstra o amor que todos deveríamos sentir uns pelos outros. Deveriam todos ler. Para sentir o amor, e perceber quando você ama alguém, ou quando alguém te ama. O amor demonstrado no poema é sentido quando a pessoa fala, quando ela está com ele, é a melhor companhia. Deveriam ler porque é mais um poema de amor. Mais um poema que demonstra esse sentimento que todos sentem uma vez na vida. Mais um poema com uma linguagem sofisticada. Mais um poema escrito por um dos melhores poetas de todos os tempos.





quarta-feira, 2 de março de 2016

"O Bicho"- Manuel Bandeira

“Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos 
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem.”


SOBRE O POETA

Manuel Carneiro de Souza Bandeira Filho, nasceu no dia 19 de abril de 1886 no Recife e faleceu dia 13 de outubro de 1968. Em 1890, sua família se muda para o Rio de Janeiro e a seguir, para Santos- SP. Durante o período que cursava faculdade, o escritor precisou deixar os estudos para ir à Suiça na busca de tratamento para a sua tuberculose. Logo que retornou ao Brasil, publicou seu primeiro livro, que não obteve muito sucesso. Dois anos mais tarde, este talentoso autor, agradou muito ao escrever Carnaval, onde já mostrava suas tendências modernistas. Após essa publicação, começou a escrever várias obras muito famosas, passando a abordar temas com mais encanto, com alguns focos em recordações da infância.

ÁNALISE

Neste poema, o eu lírico, em minha visão, faz uma crítica a desigualdade, a falta de recursos essenciais à algumas pessoas "sem condições" no mundo. Começa falando que encontrou um bicho num pátio, e descreve seu comportamento. Cita que quando o animal encontra esse alimento, o engole com voracidade, por não comer a tanto tempo. Mas, no final do poema, o "bicho" revela-se, ser um animal racional, o ser humano. Essa reflexão, nos faz pensar o quanto temos tudo, e sempre alegamos que não temos nada. O poema descreve perfeitamente essa ideia, fazendo-nos pensar duas vezes antes de jogar fora aquele pedacinho de comida, que na vida desses "bichos" fariam uma grande diferença.


POR QUE DEVERIAM LER?

O poema "O Bicho" retrata alguns problemas que nossa sociedade vem passando. Muitas pessoas passando fome, sede, com condições precárias. O significado por trás do poema têm uma mensagem muito importante, que para muitos, não importa. Recomendo a leitura do poema, pelo seu significado. Muitas pessoas, por terem tudo, não se importam com quem não tem nada. A leitura é uma reflexão. Da próxima vez que virmos uma pessoa passando fome ou sede na rua, nos lembraremos de ajudá-la. Diminuiremos o número de "bichos" na rua, e faremos uma boa ação.